A caminho do equivalente nacional, lembrei, saudoso, das vezes em que estive no lendário clube de Nova York que abrigou a movimentação do punk rock e das new e no wave. Em certa ocasião, assisti ali a outro grupo que eu adorava quando moleque, o Chaos UK. Assim que subiu ao palco, o vocalista, num sotaque malaco da periferia inglesa, bradou: “Aqui neste mesmo palco estiveram Ramones, Television, Blondie, Talking Heads, não é ? Bela merda. Esses putos nunca foram punks”. A platéia veio abaixo e o hardcore dos caras só maneirava para o vocalista insultar o clube, os EUA, a si próprio e a rapaziada presente. Uma maravilha.
Os senhores do Cockney Rejetcs, Micky Geggus (guitarra), Jeff Turner (vocal), ambos da formação original de 1979, Tony Van Frater (baixo) e Andrew Laing (bateria), não insultaram a audiência paulistana e fizeram uma apresentação que disse muito à minha memória afetiva. Pude reencontrar figuras míticas no Hangar 110. Soube que alguns daqueles com os quais dividi peripécias juvenis estão muito bem, e que outros se perderam na loucura e na marginalidade. Éramos membros de gangues, reconheço.
Houve pequenas tensões em meio ao pogo, é claro. Um ou outro corre-corre de seguranças. Afinal não se tratava de um encontro hippie. Como o Chaos UK visto no CBGB's, o Cockney Rejects faz parte da chamada segunda geração punk britânica. E na avaliação daquela garotada suburbana e raivosa, Sex Pistols, The Damned, The Stranglers e The Clash, ainda que ícones, fizeram concessões à indústria. Eram os novos burgueses. Daí o surgimento dos contrapontos: o hardcore à la Discharge, Varukers e Chaos UK e o street punk de Sham 69, Angelic Upstarts e Cockney Rejects – mais tarde o street punk seria chamado de oi! em referência a uma composição de 1980 dos Rejects, Oi! Oi! Oi!.
Antes da performance dos moradores da zona leste londrina, os vocalistas dos Invasores de Cérebros (o grande Ariel) e dos Lambrusco Kids (Marcio Faveri) criticaram a intolerância daqueles que acreditam no estapafúrdio neonazismo tropical. Na mesma medida, os Rejects também reafirmaram a distância da extrema-direita que cooptou boa parte dos skinheads na Europa – ah, nunca é demais lembrar que os primeiros skins ingleses ouviam r&b, soul e música jamaicana. Lembranças, lembranças, como naquela faixa do disco Trashland, das Mercenárias. Opa, mas aí já é coisa do pós-punk.
Comentários
Bobage.
Tô na área,cavalheiro. Tá uma beleza isso daqui. Tava fazendo falta uns texto tipoteu. Dscarréga brimo!