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Você não é o Fausto Fawcett?

Fausto Fawcett, Dado Villa Lobos e Carlos Laufer ensaiam Favelost

Estávamos eu e um amigo, vocalista de cultuadíssima banda indie dos anos 1990. O lugar se chamava New York Bar, já extinto, e era onde podia-se fazer compras aditivas na madrugada paulistana. Vínhamos do também finado Aeronta, saudoso. Fausto Fawcett fizera lá o show de lançamento de seu terceiro álbum, Básico Instinto (1993). Na ocasião, ladeado pelas loiraças belzebu Regininha Poltergeist e Marinara, a policial. "Amém Regininha! Amém Marinara!", gritava a platéia em uníssono.

Depois do show, eu e o amigo demos uma passada no New York Bar, ida às compras. Numa das mesas do respeitável estabelecimento uma animada turma de garotas mirava os olhares sobre nós. "Só pode ser comigo", pensamos os dois, feito pavões sedutores. A mais graciosa delas se levanta e vem em nossa direção. Sorridente e lasciva. Mas, para minha decepção, vai direto ao amigo, e diz: "Que legal te ver aqui, adoro a tua música, as tuas letras...". Meu amigo estufa o peito, agradece e já imagina a balada forte acompanhado das gatinhas da mesa – ao mesmo tempo em que levemente me desdenha. A moça continua. "Assisti a um show de vocês no Circo Voador [um dos templos culturais cariocas, ali na Lapa, próximo aos Arcos] na semana passada. Foi demais". O amigo corrige. "Estivemos no Rio de Janeiro, mas o último show foi em outra casa noturna e há dois meses."

A gatinha, já ao lado de outra beldade que levantara-se da cadeira, discorda. "Não. Claro que foi no Circo. Acho que você estava muito louco". Intrigado, o amigo dá mais detalhes de sua última passagem pela antiga capital da República, o Rio 40 graus, cidade purgatório da beleza e do caos. Decididamente, a banda não tocara no Circo Voador. A gatinha então pergunta. "Mas você não é o Fausto Fawcett?". "Não! Eu sou fulano, o nome da minha banda é tal", responde o amigo, entre o indignado e o choroso. "Ah! Então me desculpa. Viajei", diz a gatinha, que nos dá as costas lindas e volta para as amigas na mesa.

Com fama de arrogante, meu amigo ficou cabisbaixo. Jamais o vira daquele jeito, o ego em frangalhos. Levou alguns longos segundos para se recompor do ocorrido e me suplicou baixinho. "Pô, não vai contar pra ninguém, né?". Eu, humano, demasiadamente humano, vil, portanto, quase tive falta de ar. Às gargalhadas, confessei que não poderia deixar de comentar a bizarraria com a turma. "É claro que eu vou contar!". O apelido Fausto grudou nele como um carrapato.

Sempre lembro dessa história quando vejo algo do Fawcett. Diferente da gatinha que o confundiu com o meu amigo (como? como?), acompanho com muito mais atenção a obra dele e ontem tive o prazer de assisti-lo no SESC Pompéia, dentro do projeto Multiplicidade, Imagem, Som, Inusitados. Ele trouxe a São Paulo a nova empreitada: o espetáculo Favelost. A grande performance é baseada em seu novo livro (primeiro capítulo aqui). Trata-se de um repertório de canções que ganham a interpretação visual de diversos artistas plásticos. O cenário é composto de um enorme telão em frente ao palco. Atrás do véu, Fawcett e os Robôs Efêmeros Carlos Laufer (baixo) e Dado Villa Lobos (guitarra) narram o nascimento de uma nova nação pós-tudo. "Favelost é especulação em torno de uma imensa favela que deve surgir entre Rio e São Paulo como fenômeno urbano normal", nas palavras de Fawcett. Programações eletrônicas, gaita com delay, dissonâncias, surrupios de Rolling Stones e Chris Isacs servem de base para um sensacional texto delirante.

Comentários

Daniel Barbosa disse…
Oi Rodrigo!

Seu blog é sensacional! Vou linká-lo ao meu!

Ah, sou aluno de um cara fantástico, que você deve ser apaixonadão por ele: seu grande pai,Ricardo Dias! Rs!

Abraço,

Daniel
Anônimo disse…
Salve, Daniel! Grande presença. Viva o professor Ricardo. Abs
Anônimo disse…
fausto fawcett é péssimo neh carneiro
Anônimo disse…
o que é isso? fausto é um mestre.
aline disse…
adoro essa história e concordo com o carneirin... MESTRE!

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