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Um salve pra Domingos Oliveira


Na sexta-feira passada, assisti pela milésima vez ao Todas as mulheres do mundo. E, feito a primeira olhadela no filme de 1967 do Domingos Oliveira, fiquei maravilhado com os diálogos, com a modernidade e com o absoluto propósito de discussão sobre os relacionamentos humanos. Quanto mais o tempo passa, mais eu entendo e me identifico com o alter-ego do Domingos vivido magistralmente pelo ator Paulo José.

Durante a sessão, afundado no sofá de casa, uma das cenas me pegou de jeito: o poema escrito para Maria Alice, mulher do personagem do Paulo e ex do Domingos na vida real, ninguém menos que Leila Diniz - o filme todo é uma ode à Leila, uma forma encontrada pelo diretor para expurgar a dor da separação. Domingos a dirige também em Edu, Coração de Ouro (1968). Bom, voltemos à cena: a câmera acompanha os contornos suaves de Maria Alice/Diniz enquanto Paulo/Domingos celebra a nudez da amada. No verso final, o personagem manda: “Tua alma? Tua alma é teu corpo, Maria Alice”. Fiquei pasmo e a um passo do choro. Parecia que eu nunca tinha visto aquilo. Com os filmes do Domingos é assim: marcou bobeira, o espectador é abduzido e levado ao bairro da Gávea, ao Baixo-Leblon, ao posto 9... o artista carioca tem uma obra personalista e irresistível. Os mais recentes longa-metragens – todos encenados antes no teatro - são Separações (2003), Feminices (2005) e Carreiras (2006), esse último rodado em câmera digital e premiado no último Festival de Cinema de Gramado com o Kikito de melhor atriz para Priscila Rozenbaum, companheira de todas as horas, palcos e telas do Domingos. Num outro feriado desses o Canal Brasil reprisou Amores (1997). Peguei pela metade e assisti de novo.

A convite da Bravo Online, o Domingos estreou ontem um blog que já figura aqui na lista dos meus favoritos. Vejam só o que bem pensa o homem dessa história de “blogar”. “Outro dia compreendi o que é um blog. Por isso eu resolvi aceitar este por um mês. É uma coisa muito mais importante do que eu tenho pensado. É um jeito das pessoas seguirem o pensamento das outras. Do jeito que ele é. Descontínuo. Desordenado. Casual. É uma espécie de diário do escritor do blog. Selecionado aquilo que pode interessar a todos. E a meta do blog é “fazer amigos e influenciar pessoas”, título de um livro do meu tempo que fez um sucesso danado, acho que foi o primeiro de auto-ajuda. Dale Carnegie.” Grande Domingos, amigo que nunca me viu mais magro.

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'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu