Fausto Fawcett, entrevistado de Jotabê Medeiros. Foto: Marcos Arcoverde
Você falava muito nos anos 1980 dos programas militares americanos, dos bastidores do projeto Guerra nas Estrelas, e também abordava muito o simulacro baudrillardiano. Aquele futuro se realizou?
Ali pelos anos 90, até o meio da década, houve, para variar, uma euforia com essa nova ferramenta, o computador. Parecia que era só abrir um site e ficar milionário. Agora, nesta década, aconteceu que o povão mundial tomou conta. Aí, o que o neguinho quer mesmo é fofoca. As redes sociais envolvem muita gente. E teve gente que se pôs a pensar que isso era uma revolução, que as redes sociais nos trariam uma inteligência coletiva. Eu acho que o grande barato que se tem nessa situação tecnológica atual é a banalidade. Não temos mais aqueles sonhos positivistas, de que a ciência vai nos levar a uma excelência, a uma utopia. Não há dúvidas que temos mais conforto, temos uma capacidade gigantesca de armazenamento de dados, de informações. Mas essa meta de a gente chegar, com o progresso, a algum lugar, não vai dar porque a gente é errado, maluco, trágico. Vai dar defeito. Então aquela onda do Baudrillard... O que eu gostava mesmo dele era aquele jeito meio apocalíptico, até meio obscurantista. Eu gostava da verve dele. Eu me lembro de um poema do Paulo Leminski que diz assim: "Um poema que você não entende é digno de nota/ Tem a dignidade de um navio perdendo a rota". Então eu gostava daquele negócio do Baudrillard, não do simulacro, essas coisas que eram até divertidas, mas o lance daquele cara, aquele sociólogo, pensando de forma catastrófica a comunicação. Não tenho esse deslumbramento. Por exemplo: foi um auê quando apareceu o Second Life, e hoje ninguém se interessa mais pelo Second Life. Virou uma trucagem, mas era o grande hit, tinha empresa lá dentro, dinheiro. Mas as pessoas têm o Second Life aqui dentro (aponta para a cabeça). A publicidade já tem Second Life há 70 anos, sacou? Então aquilo ali é apenas um desenho animado.
É o que nos diz o grande Fausto Fawcett em entrevista imperdível concedida ao Jotaço e publicada no início desta semana pelo jornal O Estado de S. Paulo. No texto, fica-se sabendo, entre outras, que a brava Editora Papagaio, responsável por ter colocado a obra completa de José Agrippino de Paula na rua novamente, relança a obra literária do figuraça de Copacabana, com três livros e mais dois inéditos, Favelost e o infantil (é, infantil) Loirinha Levada, a partir de março. Deem uma lida.
E por falar em Fawcett, relembro aqui de um post de 2008 que conta um episódio hilário envolvendo a mim, um amigo, loiraças belzebu e a imagem distorcida do próprio artista. Coisas dos anos 1990.
Você falava muito nos anos 1980 dos programas militares americanos, dos bastidores do projeto Guerra nas Estrelas, e também abordava muito o simulacro baudrillardiano. Aquele futuro se realizou?
Ali pelos anos 90, até o meio da década, houve, para variar, uma euforia com essa nova ferramenta, o computador. Parecia que era só abrir um site e ficar milionário. Agora, nesta década, aconteceu que o povão mundial tomou conta. Aí, o que o neguinho quer mesmo é fofoca. As redes sociais envolvem muita gente. E teve gente que se pôs a pensar que isso era uma revolução, que as redes sociais nos trariam uma inteligência coletiva. Eu acho que o grande barato que se tem nessa situação tecnológica atual é a banalidade. Não temos mais aqueles sonhos positivistas, de que a ciência vai nos levar a uma excelência, a uma utopia. Não há dúvidas que temos mais conforto, temos uma capacidade gigantesca de armazenamento de dados, de informações. Mas essa meta de a gente chegar, com o progresso, a algum lugar, não vai dar porque a gente é errado, maluco, trágico. Vai dar defeito. Então aquela onda do Baudrillard... O que eu gostava mesmo dele era aquele jeito meio apocalíptico, até meio obscurantista. Eu gostava da verve dele. Eu me lembro de um poema do Paulo Leminski que diz assim: "Um poema que você não entende é digno de nota/ Tem a dignidade de um navio perdendo a rota". Então eu gostava daquele negócio do Baudrillard, não do simulacro, essas coisas que eram até divertidas, mas o lance daquele cara, aquele sociólogo, pensando de forma catastrófica a comunicação. Não tenho esse deslumbramento. Por exemplo: foi um auê quando apareceu o Second Life, e hoje ninguém se interessa mais pelo Second Life. Virou uma trucagem, mas era o grande hit, tinha empresa lá dentro, dinheiro. Mas as pessoas têm o Second Life aqui dentro (aponta para a cabeça). A publicidade já tem Second Life há 70 anos, sacou? Então aquilo ali é apenas um desenho animado.
É o que nos diz o grande Fausto Fawcett em entrevista imperdível concedida ao Jotaço e publicada no início desta semana pelo jornal O Estado de S. Paulo. No texto, fica-se sabendo, entre outras, que a brava Editora Papagaio, responsável por ter colocado a obra completa de José Agrippino de Paula na rua novamente, relança a obra literária do figuraça de Copacabana, com três livros e mais dois inéditos, Favelost e o infantil (é, infantil) Loirinha Levada, a partir de março. Deem uma lida.
E por falar em Fawcett, relembro aqui de um post de 2008 que conta um episódio hilário envolvendo a mim, um amigo, loiraças belzebu e a imagem distorcida do próprio artista. Coisas dos anos 1990.
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