Agradeço a uma paixão da juventude a possibilidade de ter assistido a um dos shows que Nick Cave fez no Projeto SP, em 1989. Não me lembro se a cabocla ganhara ingressos numa promoção de rádio ou tinha contatos fortes na casa – lugar onde testemunhei Iggy Pop, Jesus and Mary Chain, Devo, The Sisters of Mercy, Stray Cats, entre tantos outros . O fato é que um dos bilhetes era meu e, a maravilha, aquela por quem eu arrastava asas de anjo caído seria minha ilustre companhia. Fiquei embasbacado com a performance. Enquanto Cave urrava canções de Tender Prey, a cabocla me recitava histórias de amor e morte ao pé d'ouvido. E os Bad Seeds tocavam alto na Barra Funda. Passados alguns meses, a cabocla sumiu na bruma, mas tem a minha gratidão.
Já Cave, que dedicara o disco de 1988, ao ator principal do filme Pixote, de Hector Babenco, Fernando Ramos da Silva, assassinado pela polícia paulistana no ano anterior, ficou. Apaixonou-se por uma brasileira, teve herdeiro nacional e flanou por um longo período pela Mercearia São Pedro, pelo Espaço Retrô, pelo Jungle...
Anos antes do show, um amigo menos radical dos tempos de hardcore me falou pela primeira vez do Cave. "Esse doido era de uma banda punk australiana e agora está metido numa onda dark pesada! (O termo gótico só nos chegaria mais tarde). Toma heroína e tudo. Se liga".
Bem, o palavrório todo é por conta do 14º álbum do australiano e seus Bad Seeds, Dig, Lazarus, Dig!!!. Chega às lojas na semana que vem e já está disponível no MySpace oficial (essa história de oficial já não quer dizer mais nada, né?). No ano passado, o cara se fez de Grinderman e lançou o classudo CD/DVD Abattoir Blues Tour . Agora cobra de Lázaro uma estranha ressurreição. É um puta artista.
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abs
Ivan