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Elogio ao fetiche

Meia arrastão, tatuagem, sapato de salto alto: tudo certo

Noite dessas eu revia capítulos finais da última temporada de Nip/Tuck, seriado adorado sobre uma dupla de cirurgiões plásticos de Miami, Sean McNamara (Dylan Walsh) e Christian Troy (Julian McMahon), as obsessões deles e de seus pacientes. Trama rolando e lá pelas tantas apareceu um sujeito que tinha desejo por móveis. Desejo sexual, eu digo. Lançava olhares de cão danado a almofadas, mesinhas de centro, cadeiras estofadas, o mobiliário, enfim. E ia para cima. Foi até flagrado em pleno ato com um sofá de design arrojado que decorava a sala de um dos cirurgiões protagonistas.

Ao ver o episódio, pensei também nas coisas que me fascinam. Móveis da minha casa, do trabalho e dos lugares que frequento, ou venha a frequentar, podem ficar tranquilos. Deixo-os com o “tarado” do Nip/Tuck. O que povoou mesmo a cachola foram diversas partes da anatomia feminina e os acessórios que fazem as moças ainda mais lindas. Sapatos, meias-calças, minissaias, lingeries, jeans de cintura baixa, vestidos de algodão, calças de couro, tatuagens new school a adornar ombros, panturrilhas, pescoços, cinturas, seios de diversos tamanhos, pés descalços, unhas pintadas, olhos, bocas, coxas, mãos. Afinal, são das partes que é feito o todo, não é?

Com o fetiche falando alto, lembrei da incrível série de livros da Taschen, os The Big Books. Já houve volumes dedicados a três temas: cacetes avantajados (assunto que não é dos meus prediletos, vamos dizer assim) presentes em The Big Penis Book, seios generosos e naturais focalizados em The Big Book of Breasts, e a trinca pernas, meias-calças e cinta-ligas no mais recente deles, The Big Book of Legs. Compilada pela editora Dian Hanson, a publicação, como as outras da série, enche os olhos fetichistas, mas também defende teses interessantes. No caso das pernas, por exemplo, o discurso é o de que elas foram determinantes para o processo de libertação feminina. Não só por propiciarem corridas da polícia ou mobilidade em passeatas feministas, mas por figurarem em espetáculos de cabaré do final do século 19 ou no foco da revolução comportamental em que estava inserida a minissaia. Já os textos relacionados aos seios citam Sigmund Freud, exploram as raízes ancestrias de culto e questionam o atual reinado do silicone. Ouvi dizer que o próximo Grande Livro terá a bunda como estrela. Que venham as imagens e as justificativas.

Moças clicadas na década de 1970 presentes no The Big Book of Breasts

As pin-ups Bettie Page e Paula Klaw, 1953, no The Big Book of Legs

E já que o assunto é sexy e fetichista, a amiga Carol Thomé está finalizado um documentário sobre Von Victor, artista plástico de talento incomensurável e bamba do erotismo. "Sou um pervertido excomungado", diz ele em O Estranho Mundo de Von Victor. Eis o teaser:

Comentários

Anônimo disse…
carneiro tarado
Minimal. disse…
eeeiii vou te adicionar aos meus favoritos pura e simplesmente pelo seu post sobre beat generation :)
rodrigo carneiro disse…
Fico feliz com isso, deCostas. Obrigado pela visita e por adicionar.
Carol Thomé disse…
adorei tudo o que li! creio que nas buscas sobre fetiches, perversões e erotismo meu nome aparecerá com mais frequencia daqui para frente...e isso não é nada mal. sou sua fã. tks por citar o doc, honey!

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'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu