Ela disse-me que um menino construiu a sua casa
numa tarde de primavera
e que esse menino morreu
ao atravessar a rua.
Ela disse que leu num jornal
que numa esquina da avenida tal
um menino fora atropelado por um automóvel.
É evidente que eu não acredito nela
Foi ela que construiu a casa
pendurou as laranjas e pintou os frisos dos vãos das portas
e desenhou flores nas paredes
Fez para o vento objetos de papel
escolheu pedras pelas formas de suas sombras
e pendurou balões negros e amarelos no teto.
Cada vez que a visito
repete-me a história do menino
Nunca lhe pergunto nada. É importante
compreender o papel de cada um na lenda.
Ocupo o meu lugar
entre peixes de papel e relógios falsos
identificando as flores que ela desenhou
sorrindo enquanto pinta a minha cabeça
em grandes moedas de argila
e fazendo-a objeto de uma espécie de amor cortês
enquanto contempla a sua própria morte em meio ao tráfego.
Poema do venerável Leonard Cohen, surrupiado de Filhos da Neve, Antologia Poética (Assírio & Alvim), 1985.
numa tarde de primavera
e que esse menino morreu
ao atravessar a rua.
Ela disse que leu num jornal
que numa esquina da avenida tal
um menino fora atropelado por um automóvel.
É evidente que eu não acredito nela
Foi ela que construiu a casa
pendurou as laranjas e pintou os frisos dos vãos das portas
e desenhou flores nas paredes
Fez para o vento objetos de papel
escolheu pedras pelas formas de suas sombras
e pendurou balões negros e amarelos no teto.
Cada vez que a visito
repete-me a história do menino
Nunca lhe pergunto nada. É importante
compreender o papel de cada um na lenda.
Ocupo o meu lugar
entre peixes de papel e relógios falsos
identificando as flores que ela desenhou
sorrindo enquanto pinta a minha cabeça
em grandes moedas de argila
e fazendo-a objeto de uma espécie de amor cortês
enquanto contempla a sua própria morte em meio ao tráfego.
Poema do venerável Leonard Cohen, surrupiado de Filhos da Neve, Antologia Poética (Assírio & Alvim), 1985.
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