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Desrespeito à arte e o engano municipal


Da esquerda para a direita : Osgemeos, Nunca e Nina. Foto Adriana Paiva

Leio que houve mais um episódio de insensibilidade urbana. Mais um caso típico de picuinha política misturada à ignorância. Sob pretexto de apagar pichações de áreas públicas, a prefeitura de São Paulo, da qual Gilberto Kassab (DEM) é o titular, contratou os serviços de uma empresa. Contrato assinado, o órgão de assepcia foi direto ao painel da alça de acesso da 23 de Maio ao elevado Costa e Silva, na Bela Vista, e cobriu de tinta cinza o trabalho de gente graúda do grafite, das artes plásticas contêmporaneas, do pictórico além do pós-moderno, o termo não importa. O fato é que parte dos 680 metros da obra assinada pelos incríveis Osgemeos, Nunca, Nina, Vitché e Herbert Baglione já não exite mais.

A assessoria de imprensa da prefeitura reconheceu o “vacilo” e informou que a limpeza seria feita apenas num dos pontos, mas acabou por invadir o mural dos artistas. Deixou-se intacto o trabalho no sentido Oeste-Leste da via. Vale lembrar que o painel de 2002 teve a autorização da então prefeita Marta Suplicy (PT) para ser feito. Coisa curiosa.

Otávio Pandolfo, que forma com o irmão Gustavo Osgemeos, lamentou. "Três grandes murais foram apagados. Dos menores, nem sei dizer", e mais. "É desrespeito. A gente pinta castelo na Escócia, a Prefeitura de Nova York nos chama para fazer um painel lá. Somos respeitados e conhecidos no mundo todo. Aqui, em nossa casa, não".

Pop Revisitado


Ainda bem que nem tudo é tristeza e desrespeito na seara das artes plásticas na cidade. Gerald Laing, ícone da pop art dos anos 1960, é um dos destaques de "Pop Revisitado", em cartaz na Choque Cultural (Rua João Moura, 997, Pinheiros, São Paulo, tel: 11 3061 4051).

Laing, inclusive, ficou fã d’Osgemeos e do Nunca ao presenciar as criações dos brasileiros – e paulistanos indignados – em recente exposição organizada pela Choque Cultural na Galeria Ocontemporary, em Londres.

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