Há os que se assustam com as rugas dos Rolling Stones. Afinal, em primeira leitura, o rock é território dos verdes anos: o som da juventude. Acontece que o gênero tem cinco décadas sobre a Terra e oferece ao mesmo tempo a idéia da juvenilia sem fim e a possibilidade de espreitar o amadurecimento de seus personagens – e seguidores. Os velhos Stones, e outros maduros, maduríssimos, rockers, aprenderam tudo com o jovem octogenário que se apresentou ontem no HSBC Brasil, em São Paulo. Chuck Berry em cena é uma miríade de significados. Está lá o homem que cruzou limites raciais ao ter a sua frente platéias mistas em uma América segregada. O homem que não levou desaforos pra casa e, certa vez, quebrou a cara de Jerry Lee Lewis – outro casca grossa. O homem de Johnny B. Good - eleita pela Rolling Stone norte-americana como a melhor canção para guitarra de todos os tempos - e Rock and Roll Music. O letrista eficaz e onomatopéico.
O homem que tocou seus clássicos e, a exemplo da passagem pelo Vivo Rio na noite anterior, chamou as moças para dançar no palco – recebia abraços e beijos: "It’s all right", retribuia. O homem que se fez acompanhar pelo filho Charles Berry Jr (guitarra), Jimmy Bassala (baixo), Bob Lohr (piano) e pelo brasileiro Marquinho Alcântara (bateria). O homem que iniciou a performance exatamente às 21h30 com "Memphis, Tennessee" e correu para os camarins uma hora depois - sem essa de bis. O homem que proibiu as câmeras de TV e as imagens do telão da casa de espetáculos. O homem que atendeu pedidos da audiência. O homem, a história da música pop em vida, que conserva o espírito de menino levado intacto e dançando.
*Trecho da letra de Rock and Roll Music
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