Pular para o conteúdo principal

A responsabilidade é minha, dizem os caras


Bruno Fevery, Brant Bjork, John Garcia e Nick Oliveri: Kyuss Lives!

Pouco antes do início do showzaço Kyuss Lives! (que traz em seu bojo três integrantes originais da grande banda californiana Kyuss, o baixista Nick Oliveri, o vocalista John Garcia e o baterista Brant Bjork – Josh Homme, hoje guitarrista e vocalista do Queens of The Stone Age, é substituído por Bruno Fevery), neste domingo, 13, no Carioca Club, em São Paulo, fui abordado por dois rapazes que me agradeceram por ter sido eu um dos responsáveis por eles estarem ali. Fujo desse tipo de responsabilidade, afasta de mim esse cálice, pai, brinquei, e a dupla se disse fã dos Mickey Junkies e de textos que batuquei há uns anos sobre stoner rock. Pra minha surpresa, lembraram de um escrito para a extinta Trama.com, de 2002, e da cobertura algo gonzo que fiz para o Caderno 2, de O Estado de S.Paulo, acerca da primeira aparição do Queens of The Stone Age no Brasil, durante o Rock in Rio 3, em 2001. Não estou achando os textos do Estadão na rede. Tenho-os impressos em páginas de jornal n'algum lugar, paciência. Mas sei que aquela divertidíssima série de reportagens começou com uma entrevista por telefone com Nick Oliveri, passou pela tímida chegada do QotSA ao Hotel Intercontinental, em São Conrado – eles, ilustres desconhecidos, desembarcaram do taxi num saguão tomado por fãs histéricos do Guns N'Roses -, pela nossa ida, com gente da MTV Brasil, ao ensaio da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, até chegar ao episódio da nudez de Oliveri em pleno Palco Mundo e a rápida detenção dele, sob as ordens, sedentas de holofotes, do juiz Siro Darlan, da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro. "Vocês têm o carnaval e as meninas de biquíni na praia o ano todo. Achei que um pouco de nudez não causaria problema nenhum, man", me dizia ele, no dia seguinte ao show, à beira da piscina do hotel, rindo muito. Já Josh Homme, de olho na minha camisa azul com dois tigres no peito, tentava me convencer a vendê-la. Resisti, afinal, as vacas eram gordas naquele tempo. Bom, a resgatada matéria da Trama.com de 2002 está aqui e abaixo. Curioso, não havia o YouTube ainda e os vídeos selecionados – não estão mais no ar - eram do acervo do meu amigo Ramon Bonzi, que, claro, estava lá também no Carioca Club. Batemos cabeça together em uma agradável noite de stoner rock, bebês.

Stoner rock: promíscuo e festivo

O terceiro disco do Queens of the Stone Age, “Songs for the Deaf”, só chega às lojas em agosto. Mas, a faixa “Millionaire” já está disponível na rede. Festivos e maluquetes, eles fazem parte do que é chamado de stoner rock.

Quem não se lembra da letra entorpecente de “Feel Good Hit of The Summer” - "Nicotine, valium, vicodan, marijuana, ecstasy and alcohol/C-c-c-cocaine" - assinada pelos malucos do Queens of the Stone Age ? Essa é a faixa de abertura de “Rated R” (2000), segundo disco da banda norte-americana. Surpreendendo todas as expectativas, o álbum conseguiu o impossível: colecionar elogios rasgados das mais díspares publicações musicais. Só para se ter uma idéia dos extremos, a headbanger Kerrang! classificou-os de "fenomenais" , enquanto a britânica NME considerou “Rated R” "o mais pesado, honesto, sombrio e belo álbum americano da década". Em meio a todo esse burburinho, o grupo frequentou os palcos de grandes festivais como Reading, Leeds e Rock in Rio, onde o baixista Nick Oliveri foi preso por tocar nu em pleno Palco Mundo, estabelecendo-se como uma espécie rara de hit de verão.

Um aperitivo do sucessor de “Rated R” já está disponível na Internet. A faixa “Millionaire” do álbum inédito, “Songs for the Deaf”, pode ser ouvida no site oficial da banda www.qotsa.com. Estão lá, a voz gritada e de acento hardcore de Nick Oliveri, os riffs hipnóticos de Joshua Homme e a bateria de um convidado muito especial, o foo fighter Dave Grohl - o músico esteve no comando das baquetas nas mais recentes apresentações do grupo.

Previsto para chegar às lojas no dia 13 de agosto, o disco tem também como colaborador (efetivo) o ex-Screaming Trees, Mark Lanegan, que empresta sua voz de barítono a diversas das faixas. Considerando a receptividade calorosa que as novas composições tiveram junto ao público que acompanha a banda, “Songs for the Deaf” tem tudo para repetir o êxito de “Rated R”.

A espera pelo lançamento do novo disco serve de pretexto para a avaliação do termo ao qual o Queens of The Sone Age é associado: o stoner rock (rock chapadão, na tradução livre). Não há registro exato de origem do termo, mas seguramente ele remonta ao final dos anos 60. Em 1968, o Blue Cheer já poderia ser considerado um ícone stoner - o nome do grupo de São Francisco era também o de um potente ácido lisérgico. Especulação à parte, a personificação do termo é o grupo Kyuss. Oliveri e Homme eram ainda adolescentes de Palm Desert, interior da Califórnia, quando formaram o grupo em 1987.

Amantes de Black Flag, Ramones e Black Sabbath, os garotos lançaram o disco de estréia, “Wretch”, em 1991. No ano seguinte, Oliveri deixou a banda para integrar o alucinado grupo Dwarves, de Chicago. Sob a batuta de Homme, o Kyuss gravou o emblemático “Blues For The Red Sun” (1992), “Welcome to Sky Valley” (1994) e “...And the Circus Leaves Town” (1995). Com o final do Kyuss, Homme mudou-se para Seattle, onde pretendia entrar para universidade. Pouco tempo depois de chegar à meca grunge, o projeto "vida acadêmica" foi posto de lado.

Com o baterista do Soundgarden, Matt Cameron, ele montou o Gamma Ray. Em 1996, foi o segundo guitarrista do Screaming Trees durante as apresentações da banda no festival Lollapalooza. Nesse meio tempo, o guitarrista deu início às gravações do projeto The Desert Sessions. Jams descompromissadas com os músicos de grupos também associados ao stoner rock, como o Fu Manchu e Monster Magnet, além dos já citados personagens da cena de Seattle - hoje, o Desert Sessions tem oito belos EPs de 10 polegadas.

Os amigos praticamente obrigaram Homme a montar uma nova banda - chegou-se até a cogitar uma volta do Kyuss, o que não aconteceu. Atendendo a pedidos, ele recrutou o baterista Alfredo Hernandez (que havia tocado no último disco do Kyuss e no The Desert Sessions) e gravou o que seria o primeiro disco do Queens of The Stone Age. O álbum já estava pronto quando o guitarrista se reencontrou com Oliveri. Homme convidou-o para integrar a nova banda em tempo do baixista posar para o retrato da contra capa do registro.

Queens of The Stone Age foi lançado pelo selo Loosegroove Recordings de propriedadede de Stone Gossard do Pearl Jam. Turnês com Rage Against The Machine, Bad Religion, Smashing Pumpkins, Ween e Hole e a boa acolhida do single de “If Only” no Reino Unido ajudaram na decolagem. Grande estréia.

Com a saída de Alfredo Hernandez, Homme e Oliveri passaram a responder pela concepção das Rainhas da Idade da Pedra e passaram a excursionar e gravar com diversos músicos. Entre uma desert session e outra, ladeados por Mark Lanegan e Rob Halford (sim, o ex-Judas Priest), confeccionaram “Rated R”, aquele álbum que agradou os gregos e troianos da crítica especializada. E, é claro, celebrou os estados alterados, a diversão, a maluquice deliberada, a amizade, o rock and roll e o perigo.

AÇÃO ENTRE AMIGOS CHAPADOS

The Atomic Bichtwax - projeto paralelo do guitarrista do Monster Magnet e colaborador do The Desert Sessions, Ed Mundell. Considerando a altura habitual dos decibéis e a psicodelia pesada da banda oficial, The Atomic Bitchwax é a faceta low-fi de Mundell.

Earthings? - Grupo experimental do vocalista Pete Stahl (ex-Scream e Wool), que canta também no pesadão Goatsnake. Os discos contam com as participações de Joshua Homme, Dave Grohl e Dave Catching (tecladista que toca com o Queens of The Stone Age).

Fu Manchu- Veterano da cena, o quarteto californiano tem uma fixação com a alta velocidade. As letras e as capas dos discos são prova disso. Skates, carros conversíveis e furgões fazem parte do imaginário fu manchu. O novo álbum, California Crossing, saiu esse ano.

Masters of Reality - Grupo cult do produtor predileto do Queens of The Stone Age, Chris Goss. Contemporânea do Kyuss, a banda gravou quatro discos difíceis de se encontrar. Cientistas, bicicletas, coelhos mutantes e até a popstar Madonna são os assuntos nas letras. O nome é uma homenagem ao terceiro disco do Black Sabbath.

Monster Magnet - O saudoso papa do LSD Timothy Leary adorava. "O Monster Magnet é um grupo perigoso", dizia o Ph.D. psicodélico. Liderado pelo guitarrista e vocalista Dave Wyndorf, a banda foi a primeira da cena stoner a conquistar o grande público. Os discos “Spine of God” e “Dope to Infinity” são verdadeiros clássicos do gênero - ainda que eles prefiram o termo space rock. Faixas da banda podem ser encontradas nas trilhas sonoras dos filmes “Matrix” e “A Noiva de Chuck”.

Mondo Generator - Quando não está nu em algum palco da vida, Nick Oliveri costuma vestir uma camiseta com a inscrição Cocaine Rodeo. Esse é o nome do único álbum de seu projeto para lá de hardcore, Mondo Generator. Carreiras da substância em questão ilustram o encarte.

Nebula - O trio é formado por ex-integrantes do Fu Manchu e os dois discos da banda “To The Center” e “Charged” foram editados pela mitológica gravadora Sub Pop. O single “Do It Now” foi altamente festejado no underground e “Charged” foi lançado no Brasil pela Trama no ano passado. A banda excursionou por aqui em 2001.

Unida - Grupo dos outros ex-integrantes do Kyuss, John Garcia (voz) e Scott Reeder (baixo). O álbum de estréia “Coping With The Urban Coyote” teve uma boa acolhida da crítica em 1999. Comparações com o Kyuss são inevitáveis.

Mais histórias e bandas do stoner rock no divertido site www.stonerrock.com.


Ah, o www.stonerrock.com encerrou atividades em 2010. Era um belo sítio, viu?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Escovinha ou função, um breve estudo sociológico

'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu