Menina linda. Estudante de Educação Física, é uma das instrutoras em experiência da academia onde faço ginástica. Sim, faço ginástica. E gosto. Estamos em uma das unidades da rede instalada num shopping center da região oeste de São Paulo. Cinco horas de estacionamento grátis são oferecidas aos matriculados, reza o contrato. Fixado em uma coluna de concreto, frente às fileiras de aparelhos transport, esteiras e bicicletas ergométricas, há um revisteiro. Estão sempre ali edições recentes de Trip, Tpm, Brasileiros, Joyce Pascowitch, Pais & Filhos, Wish Report, publicações onde a academia anuncia seus serviços. É comum eu manipular as revistas expostas. Levá-las para um passeio. Enquanto encarno a minha faceta de esportista, leio os textos, consulto os expedientes, vejo as figuras. Dia desses, a menina linda, toda sorrisos, se aproxima e comenta: “você sempre com uma revista nas mãos, né?”. Concordo, um tanto envaidecido, confesso, com simpática abordagem dela. Radiante por ter chamado a sua atenção com o meu percurso magricela entre halteres, espelhos e barras fixas. Digo que sou fascinado por revistas desde criança. Que adoro ser surpreendido pelas coisas escritas. Pela plasticidade dos ensaios fotográficos - o das moças, evidentemente. E ela: “Não sei como consegue treinar e ler ao mesmo tempo. Eu nunca leio, nem quando não estou fazendo nada”. Perco totalmente o rebolado. Não sei o que dizer diante da sentença. Já que estamos em ambiente esportivo, lembro do ex-atacante Romário, hoje deputado federal lá em Brasília, que, numa das farpas trocadas com Pelé, disse que o rei do futebol era um verdadeiro filósofo: isso quando o maior mito do esporte bretão estava calado. É, a menina linda me fez entender direitinho o que quis dizer o Romário. E, repentinamente, tornou-se feia, muito feia. Uma menina horrenda.
Via Facebook, o amigo Gunter Sarfert lembrou de sequência maravilhosa de um dos meus filmes brasileiros preferidos, Os Sete Gatinhos (1980), de Neville d'Almeida, baseado na obra de Nelson Rodrigues.
Comentários
Fico aqui entrigada com essa história de "nunca leio, memos quando não estou fazendo nada". Acho praticamente impossível, mas é fato.
Contudo, o que mais me entristece nisso tudo é que quanto mais pessoas pensando assim no mundo, mais nosso "ganha pão" estará comprometido meu caro amigo escriba.
Suseli Honório
Tudo bem, nada que eu disse faz sentido. Você não se sente atraido por quem não lê e pronto. Nada de errado. Eu não gosto de mulheres mal educadas. Temos nossas preferências.
Acho até que, de forma justificável, você associou isso a uma falta de intelectualidade da estudante; até mesmo a uma falta de inteligencia. Falta de interesse com o mundo, com os outros. Enfim, tudo isso que torna a conversa desinteressante.
Só que é aí que vi o preconceito; nessa associação da leitura com inteligencia. É que hoje a linguagem escrita é o meio preferido dos intelectuais. Entretanto, não precisa ser assim. Alias, nem sempre foi assim. Quero dizer, nem em todo lugar do mundo é assim. Não acho que não gostar de ler é condição suficiente para tornar uma pessoa em alguém trivial.
Foi aí que vi preconceito, mas depois eu até mudei de ideia. Pensei melhor, seu texto não é sobre isso. É sobre encontrar a mulher dos sonhos, mas logo perceber que era só impressão.