Flavor Flav, do Public Enemy, fez 51 anos nesta quarta-feira, 16. Por conta da data, lembrei de uma passagem curiosa envolvendo um dos MCs mais malucos do hip hop e a obsessão que eu e meus amigos temos com a música. Em 1991, na companhia do meu irmão Rodrigo Brandão, desembarquei na mítica Porto Alegre. O lugar fervilhava com suas bandas e meninas lindas. A intenção era aprontar o máximo possível – no que fomos altamente bem-sucedidos. Àquela altura, um recém-lançado VHS do Public Enemy era sucesso entre a gauchada querida. Meses depois da nossa surreal estadia por lá, a animada turma interestadual estava em peso no primeiro show dos rappers no Brasil, na pista de atletismo do Ibirapuera, em São Paulo. Decididamente, não queríamos saber de outra coisa que não fosse rap ou rock de bandas obscuras dos anos 1960.
Kenny Keating, um escocês radicado no Rio Grande do Sul, estudioso da saga da família do líder sioux Touro Sentado, roadie do DeFalla, e um dos maiores cultuadores conhecidos do Flav, reproduzia dancinhas e frases do aniversariante doidão a todo momento. A imagem dele, ruivo, cabeludo, com tatuagens de índios norte-americanos nos ombros, requebrando ao modo do MC era algo no mínimo inusitado. Em uma madrugada, depois de alguma aventura no bar Ocidente ou no Fim de Século, não me lembro ao certo, fomos ao apartamento que Kenny dividia com uma amiga. Eis que a tal fita do Public Enemy volta ao videocassete. A todo o volume. Algazarra de novo. De repente, o vizinho do andar de cima, enfurecido, bate na porta. “Bah, desliga essa merda! Você são loucos? Estamos no meio da semana. Sou um trabalhador e as crianças vão para escola daqui a pouco”, Kenny, indignado e politicamente incorreto, rebateu. “Não abaixo, não. Eu trabalho na noite e estou em pleno happy hour com meus amigos de São Paulo. Seus passos de elefante e os da sua família também me acordam toda a manhã e eu nunca falei nada. Fora daqui”, disse, aos berros, com característico sotaque escocês-gaudério, antes de fechar a porta na cara do vizinho. Porta reaberta em menos de dois segundos para Kenny completar. “E tenha mais respeito. Não chame esse som de merda, pois isso é Public Enemy, meu senhor. Esses caras estão revolucionando a história da música!”. Informação dada, trancou a porta e dançou mais uma vez feito o Flav. "Yeeeeah booooyyyyee!”, nos dizia, rindo muito, o malandro gringo. Persona non grata do edifício.
Comentários
foda foi o "e o sr. tenha + respeito!".rsrsmto bom
Kadica