Você fez ensaios críticos sobre o que classifica como literatura de criatividade ou autores ligados a uma indústria cultural de marginais. Aí temos a ligação com Rimbaud e com Lautréamont, que você trouxe para o Brasil numa edição dos anos de 1970. Depois você estabelece uma ligação com os surrealistas e beatniks. Essa ligação com a literatura criativa é um projeto?
Geração beat e surrealismo até hoje são muito mal aceitos no Brasil. Acho que tenho uma vocação para a provocação. Tendo a me relacionar com aquilo que questiona, que provoca, que contesta ou que desagrada ao que está estabelecido. Tive muita sorte, há como que um acaso objetivo, forças imperceptíveis, misteriosas, que regem minha trajetória intelectual.
Muito disso em que se constitui o meu currículo aconteceu por acaso, como a ligação com Lautréamont [pseudônimo de Isidore-Lucien Ducasse, escritor de língua francesa, 1846-1870], que traduzi, retraduzi, sobre o qual escrevi tanto. O Lautréamont, da primeira vez, foi uma encomenda assim como Antonin Artaud [diretor de teatro francês, poeta e roteirista, 1896-1948].
Em 1970, Inácio Araújo teve a iniciativa de propor ao editor Adib Nader que publicasse uma tradução dos Cantos pela editora Vertente. Nessa época, ganhei páginas inteiras na Veja, com Adilson Ribeiro, e no Jornal da Tarde, com Geraldo Galvão Ferraz. Sem contar que todos os modernistas o conheceram coincidentemente com a visita de Rubén Darío [poeta nascido em Nicarágua (1867-1916), ligado ao simbolismo, exerceu atividade jornalística] ao Brasil no começo do século 20.
O país recalcou o simbolismo, por causa disso Lautréamont não emergiu tanto aqui como em países de língua espanhola, onde era importante desde o final do século 19, graças à propaganda feita por Darío, o modernizador das literaturas de língua espanhola. Algumas estrofes de Os Cantos de Maldoror foram publicadas em 1903 no Brasil, numa revista simbolista muito sintomaticamente chamada de Rosa-Cruz.
E todos os modernistas se impressionavam vivamente. Jorge de Lima [poeta alagoano (1893-1953), viveu no Rio de Janeiro a partir da década de 1930] o cita, e Murilo Mendes [poeta mineiro (1901-1975), viveu no Rio de Janeiro a partir da década de 1920], em seu poema em homenagem a Jorge de Lima, dirige-se a ele como “meu irmão em Lautréamont”.
Isso continua com Campos de Carvalho [escritor mineiro (1916-1998), sua obra, para muitos críticos, está ligada ao nonsense, próxima da escrita surrealista] e muitos outros. Para traduzi-lo, é preciso saber literatura. A questão em Lautréamont foi definir um tom, uma dicção, um estilo. Encontrei esse estilo na terceira versão da tradução, seguindo a paródia e a ironia no autor.
Isso foi elogiado, entre outros, pelo Ivo Barroso, que não brinca em serviço como crítico e que recentemente escreveu sobre o tom clássico da minha tradução. Problema técnico de tradução enfrentei com Allen Ginsberg [poeta beat norte-americano, 1926-1997], por causa da necessidade de conseguir equivalências, correlatos prosódicos no plano da manifestação sonora entre línguas tão diferentes.
Com ele aprendi o som. Minha tradução flui bem quando é lida em voz alta. Descobrimos como negociar seus direitos autorais e hoje constam oito edições da minha tradução do autor norte-americano, mais os ensaios sobre a geração beat.
Mais da entrevista com poeta, ensaísta e tradutor Claudio Willer na edição 166 da Revista E. Sugiro a leitura.
Geração beat e surrealismo até hoje são muito mal aceitos no Brasil. Acho que tenho uma vocação para a provocação. Tendo a me relacionar com aquilo que questiona, que provoca, que contesta ou que desagrada ao que está estabelecido. Tive muita sorte, há como que um acaso objetivo, forças imperceptíveis, misteriosas, que regem minha trajetória intelectual.
Muito disso em que se constitui o meu currículo aconteceu por acaso, como a ligação com Lautréamont [pseudônimo de Isidore-Lucien Ducasse, escritor de língua francesa, 1846-1870], que traduzi, retraduzi, sobre o qual escrevi tanto. O Lautréamont, da primeira vez, foi uma encomenda assim como Antonin Artaud [diretor de teatro francês, poeta e roteirista, 1896-1948].
Em 1970, Inácio Araújo teve a iniciativa de propor ao editor Adib Nader que publicasse uma tradução dos Cantos pela editora Vertente. Nessa época, ganhei páginas inteiras na Veja, com Adilson Ribeiro, e no Jornal da Tarde, com Geraldo Galvão Ferraz. Sem contar que todos os modernistas o conheceram coincidentemente com a visita de Rubén Darío [poeta nascido em Nicarágua (1867-1916), ligado ao simbolismo, exerceu atividade jornalística] ao Brasil no começo do século 20.
O país recalcou o simbolismo, por causa disso Lautréamont não emergiu tanto aqui como em países de língua espanhola, onde era importante desde o final do século 19, graças à propaganda feita por Darío, o modernizador das literaturas de língua espanhola. Algumas estrofes de Os Cantos de Maldoror foram publicadas em 1903 no Brasil, numa revista simbolista muito sintomaticamente chamada de Rosa-Cruz.
E todos os modernistas se impressionavam vivamente. Jorge de Lima [poeta alagoano (1893-1953), viveu no Rio de Janeiro a partir da década de 1930] o cita, e Murilo Mendes [poeta mineiro (1901-1975), viveu no Rio de Janeiro a partir da década de 1920], em seu poema em homenagem a Jorge de Lima, dirige-se a ele como “meu irmão em Lautréamont”.
Isso continua com Campos de Carvalho [escritor mineiro (1916-1998), sua obra, para muitos críticos, está ligada ao nonsense, próxima da escrita surrealista] e muitos outros. Para traduzi-lo, é preciso saber literatura. A questão em Lautréamont foi definir um tom, uma dicção, um estilo. Encontrei esse estilo na terceira versão da tradução, seguindo a paródia e a ironia no autor.
Isso foi elogiado, entre outros, pelo Ivo Barroso, que não brinca em serviço como crítico e que recentemente escreveu sobre o tom clássico da minha tradução. Problema técnico de tradução enfrentei com Allen Ginsberg [poeta beat norte-americano, 1926-1997], por causa da necessidade de conseguir equivalências, correlatos prosódicos no plano da manifestação sonora entre línguas tão diferentes.
Com ele aprendi o som. Minha tradução flui bem quando é lida em voz alta. Descobrimos como negociar seus direitos autorais e hoje constam oito edições da minha tradução do autor norte-americano, mais os ensaios sobre a geração beat.
Mais da entrevista com poeta, ensaísta e tradutor Claudio Willer na edição 166 da Revista E. Sugiro a leitura.
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