"A impressão que dá, olhando de lá pra cá, ou seja, nos últimos 30 anos, é que esses dois homens denominados Os Mulheres Negras, transformaram-se gradualmente numa espécie de patrimônio histórico urbano e imaginário da cidade de São Paulo, tal qual estátua do Borba Gato ou pernil de Estadão. Eles ainda cheiram a pedaço de pizza que brota da noite. Eles ainda parecem ter saído de quadrinhos de Angeli e Laerte ou de filmes do Fellini. Eles ainda emergem como ícones subterrâneos da cultura pop como a Loira do Banheiro. Esses dois homens ainda parecem uma cobra se engolindo, rolando pela rua 25 de março, que procura o pop em sua calda. Música de rádio. Mainstream. Cultura de massa que se devora até achar em seu extremo a seiva do underground ou da ciência minimalista dos porões. Os Mulheres fabricaram no decorrer dos tempos um exército de cabeças estragadas (no bom sentido, claro) pela contracultura (não falo de hippies) ou pela audácia (não falo de Paulo Maluf) de sua arte. Esses seres ouvintes nunca mais foram os mesmos. Contaminados, quebraram as amarras do preconceito musical e foram em busca de outros itens do pop no terceiro mundo, procuraram Nigéria nas linhas do Metrô, Luiz Gonzaga no rap da São Bento, Henry Mancini na Galeria do Rock. A ponto de qualquer manifestação cultural instigante de Sampa ter direta ou indiretamente alguma ligação umbilical com esses dois homens de sobretudo e chapéu coco. Eles ainda são Os Mulheres Negras. André Abujamra e Mauricio Pereira ainda são Os mães da pauliceia."
(Kiko Dinucci)
Comentários