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Não estou acompanhando a Olimpíada londrina. Vi só a abertura, o que está de bom tamanho. Mas meu pai tem assistido. E escrito coisas como esta que compartilho.

Estou pensando na Olimpíada de Londres, na diversidade de etnias, povos e nacionalidades que há nesta competição. Penso nos paradigmas que estão sendo quebrados e de outros que estão sendo estabelecidos. Quanto ao que é deficiência, por exemplo. Encantou-me ver a mesa-tenista polonesa que não tem um dos braços. E o corredor sul africano Pistorius, que não tem as duas pernas e corre com próteses d e metal em lugar delas. O machismo viu cair mais uma retaguarda ao constatar que uma nadadora chinesa, ainda uma adolescente, fez um tempo menor que um homem em uma das provas. Foram provas diferentes, cada qual em seu gênero, mas se estivessem concorrendo juntos, ela ganharia.
Causou-me também respeito e sentimento de tolerância ver a judoca muçulmana ( não me lembro de sua nacionalidade) que concorreu com a cabeça coberta, como manda a tradição de sua religião. Assim como enchem-me os olhos as meninas do vôlei de praia, com aqueles shortinhos minúsculos. Que saúde!
Assistir à Olimpíada não pode se resumir a uma atitude patriótica, embora o coração bata mais forte quando, em plena transmissão de um evento mundial, nossos símbolos nacionais (a bandeira, o hino) nos invadem os sentidos. Assistir à Olimpíada é resgatar a idéia de que somos cidadãos do mundo, e que tudo o que diga respeito ao ser humano, seja o acerto ou o erro, nos emociona.
Por sinal, é lindíssimo ver negros de origem africana representando países europeus como Itália, Noruega, Suécia. Isso é um soco na cara ( ou pontapé na canela) do preconceito.
Derramei lágrimas furtivas quando a judoca brasileira foi desclassificada por aplicar um golpe não permitido; quando os irmãos Hipólito, ginastas brasileiros, caíram durante a apresentação.
Vibrei com a performance da Serena Williams, embasbaquei-me com a competência do Michael Phelps ( é assim que se escreve?) ressurgido das cinzas qual fênix, a despeito do descrédito de muitos.
E não vou me deixar levar pela explicação simplista e racista de que os negros têm disposição genética para o atletismo. E que isso explicaria o sensacional desempenho de atletas de países como Moçambique na África, e Jamaica no Caribe. Vou continuar acreditando que isso se dá por razões sociais, já que em países pobres como esses, os jovens acabam se dedicando muito mais à corrida, que a princípio é um esporte mais acessível para eles. E que esses países não têm grandes expressões na natação, por exemplo, porque muitas vezes não há uma piscina de competição na qual esses jovens possam praticar. E ai acontece a quebra de outro paradigma. E os Estados Unidos são pródigos nisso: pela primeira vez a principal ginasta feminina norte americana é negra, a Gabby Douglas. Sobressaiu-se em um espaço até aqui ocupado por atletas brancas.
Mas, volto a dizer: não estou preocupado em ver o desempenho dos brasileiros, somente, dos negros, somente.
Estou preocupado em ver pessoas, seres humanos, demonstrando toda a sua capacidade de ultrapassar limites. Envoltos numa aura mítica, eles são, para nós, como os próprios deuses do Olimpo. Falhos e ao mesmo tempo magníficos, como os deuses do Olimpo.

P.S.: E então, será que vamos ganhar o ouro no futebol e a prata no basquete masculino? Aliás, vocês sabem que o técnico da seleção brasileira de basquete masculino é um argentino?

(Ricardo Dias)

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