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Lendo William Blake aprendi que os poemas são uma coisa tão comum quanto as canções e que uma vida sem canções e sexo oral é muito entediante; ler um poema leva menos tempo que comemorar um gol e é igualmente revigorante para a alma. Embora não se possa discutir a eficácia de uma Ferrari ou de um anel de diamantes, o poema continua sendo um método barato e aconselhável quando o objetivo é uma loira peituda. Atrás das belas e atormentadas canções de Jim Morrison ou Kurt Cobain estão as leituras que fizeram de Baudelaire, Rimbaud, Blake e outros tantos poetas. Os poemas não evitam guerras nem curam a gripe, mas ajudam a suportá-las. Um poema fodido de bom afina as ideias, melhora a percepção da realidade, tira a sujeira das orelhas, dá estilo. Não ouço canções nem leio poemas para decifrar o mistério da existência ou ganhar uma viagem a Las Vegas, faço-o para que tudo funcione melhor (incluindo a loira peituda). Se você está lendo esta linha ou a seguinte, o problema é seu; como a máquina de somar zeros, tudo o que digo e em que me baseio pertence ao vazio porque o destino de um livro nunca estará nas mãos de quem o escreve, e sim de quem o lê.

(Efraim Medina Reyes, trecho final do prefácio do ótimo "Pistoleiros/putas e dementes")

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Escovinha ou função, um breve estudo sociológico

'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu