O trompetista e cantor Chet Baker (1929-1988)
"Fiquei zanzando por Nova York, indo ao Harlem todo dia. Tinha um cara chamado Dirty Nick que morava na rua 143, perto da avenida Lenox. Trabalhava para um traficante bem conhecido, mas houve algum problema e ele foi substituído. Provavelmente, não estava trazendo para o chefe todo o dinheiro que era esperado. Eu ia para o seu apartamento e ficava esperando ele chegar de sua expedição em busca de heroína. Quando ele voltava, injetávamos a droga e ficávamos doidões. Eu geralmente chapava, e acabava acordando com baratas rastejando por cima de mim.
Num determinado dia, estávamos duros. Nick sugeriu que a gente pregasse uma peça no seu antigo chefe, explicando seu plano enquanto esperávamos dentro do meu pequeno Ford preto, na Sétima Avenida, entre as ruas 125 e 126. Observando um Cadillac azul-escuro parar perto de um bar, na esquina da 126, do outro lado da rua. Os “aviões” do chefe, um a um, aproximaram-se do carro, pegaram seus pacotes e os endereços das entregas. Um negão todo alinhado – como todos os outros ali – recebeu seu endereço e chamou um táxi. Fomos atrás dele.
O táxi seguiu em frente e parou num edifício de apartamentos de esquina na rua 165 com Amsterdam. Deixei que o negão entrasse pela portaria do prédio e, então, o segui. O sujeito pesava uns cem quilos. Quando entrei pela porta da frente, o cara levou o maior susto. Ele estava procurando a droga bem embaixo da calefação e, ao me ver, quase borrou as calças. Não lhe dei tempo para pensar. Eu pesava setenta quilos, mas estava de terno azul e camisa branca. Embora sem gravata, eu era branco – o que, me parece, foi o que mais o perturbou. “FBI” – falei grosso. “O que você está fazendo aqui?”. Enquanto ele gaguejava, continuei falando: “Contra a parede!” Ele virou e eu o revistei: sem armas. Ele acabou soltando que estava indo visitar um amigo, no segundo andar. “Vamos ver” – disse eu. Subimos as escadas. Ele bateu na porta. Esperamos. Ninguém apareceu. “Não tem ninguém em casa” – falei, e concluí: “Tudo bem, cara, suma, e não apareça por aqui de novo.” Ele se foi como um relâmpago. Dei uma busca na calefação e peguei a droga."
Trecho de Memórias Perdidas (1997), autobiografia de Chet Baker.
"Fiquei zanzando por Nova York, indo ao Harlem todo dia. Tinha um cara chamado Dirty Nick que morava na rua 143, perto da avenida Lenox. Trabalhava para um traficante bem conhecido, mas houve algum problema e ele foi substituído. Provavelmente, não estava trazendo para o chefe todo o dinheiro que era esperado. Eu ia para o seu apartamento e ficava esperando ele chegar de sua expedição em busca de heroína. Quando ele voltava, injetávamos a droga e ficávamos doidões. Eu geralmente chapava, e acabava acordando com baratas rastejando por cima de mim.
Num determinado dia, estávamos duros. Nick sugeriu que a gente pregasse uma peça no seu antigo chefe, explicando seu plano enquanto esperávamos dentro do meu pequeno Ford preto, na Sétima Avenida, entre as ruas 125 e 126. Observando um Cadillac azul-escuro parar perto de um bar, na esquina da 126, do outro lado da rua. Os “aviões” do chefe, um a um, aproximaram-se do carro, pegaram seus pacotes e os endereços das entregas. Um negão todo alinhado – como todos os outros ali – recebeu seu endereço e chamou um táxi. Fomos atrás dele.
O táxi seguiu em frente e parou num edifício de apartamentos de esquina na rua 165 com Amsterdam. Deixei que o negão entrasse pela portaria do prédio e, então, o segui. O sujeito pesava uns cem quilos. Quando entrei pela porta da frente, o cara levou o maior susto. Ele estava procurando a droga bem embaixo da calefação e, ao me ver, quase borrou as calças. Não lhe dei tempo para pensar. Eu pesava setenta quilos, mas estava de terno azul e camisa branca. Embora sem gravata, eu era branco – o que, me parece, foi o que mais o perturbou. “FBI” – falei grosso. “O que você está fazendo aqui?”. Enquanto ele gaguejava, continuei falando: “Contra a parede!” Ele virou e eu o revistei: sem armas. Ele acabou soltando que estava indo visitar um amigo, no segundo andar. “Vamos ver” – disse eu. Subimos as escadas. Ele bateu na porta. Esperamos. Ninguém apareceu. “Não tem ninguém em casa” – falei, e concluí: “Tudo bem, cara, suma, e não apareça por aqui de novo.” Ele se foi como um relâmpago. Dei uma busca na calefação e peguei a droga."
Trecho de Memórias Perdidas (1997), autobiografia de Chet Baker.
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