Pular para o conteúdo principal

Gerson King Combo

“O rei morreu, irmão, e eu fui o escolhido”, informa Gerson King Combo em “God save the king”, narrativa de um sonho louco, onde um negro esperto e pé de valsa é proclamado “o rei da alegria, o rei do som, o rei do suingue, o rei dos blacks”. A faixa integra o primeiro volume da série homônima do novo monarca: “Gerson King Combo”, de 1977. Um disco da pesada, brother. Natural de Madureira, no subúrbio do Rio de Janeiro, dançarino profissional, irmão de Getúlio Côrtes (autor de "Negro gato", canção eternizada por Roberto Carlos e Luiz Melodia), Combo é das figuras centrais de um consistente levante afirmativo de negritude. Ao lado de Tim Maia, Cassiano, Dom Salvador & Abolição, Banda Black Rio, Tony Tornado, entre outros notáveis, responde pelo surgimento do soul/funk tropical setentista. No decorrer do disco cometido por ele, cujos trabalhos são abertos com um hino da magnitude de “Mandamentos black”, há diversos temas certeiros como “Hereditariedade”, “Just for you” e “Esse é o nosso black brother”. Composições que ainda dizem muito à comunidade negra - e aos seus simpatizantes. Um discurso periférico de celebração. Uma elegia à ancestralidade africana ao modo James Brown. Uma malandragem amorosa amplificada pelas batidas de um groove nervoso. Está lá nas escrituras cariocas: “Assuma a sua mente, brother, e chegue a uma poderosa conclusão”. Cientes da responsabilidade étnica, os súditos mais atentos dançam com o rei desde o final dos anos 1970. E a jogada é essa. Pode crer que é.

(Texto batucado por mim para o programa do show que integra o projeto "Álbum", do SESC Belenzinho, em São Paulo. Na apresentação que ocorre neste sábado, 24, às 21h30, Combo e a rapaziada interpretam o disco de 1977 na íntegra)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Escovinha ou função, um breve estudo sociológico

'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu