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Olho no lance


Tenho um poeminha que diz assim: "Deram-me morangos/ para amenizar a morte súbita/ e uma ânsia de vômito/ impediu que eu provasse vermelho fruto./ Desapontando todos aqueles/ que ali estavam, tomei nos braços/ minha desfalecida esperança/ e a velei em outros cantos". Foi escrito ainda na juventude e me define. Sim, sou um descrente crônico. Um ressabiado em loop. Um existencialista tropical. Porém, me flagro deveras comovido diante do que tem acontecido nas ruas de São Paulo, do Brasil afora. Era exatamente o que desejávamos nós – antes do meu cansaço de alma - na série de protestos do final dos anos 1980: uma poderosa confluência de insatisfeitos. Não vou me estender em análises, há gente mais capacitada – e também não – pra tanto, mas, só quero deixar aqui registrado que o momento histórico é riquíssimo (ó, que sacada iluminada). Não estive nas manifestações desta segunda-feira, 17, nem nas anteriores; e é pouco provável que esteja nas próximas, no entanto, sigo de olho no lance. Minhas homenagens à rapaziada. Poder para o povo, porra. A foto é do meu amigaço Otavio Sousa.

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Escovinha ou função, um breve estudo sociológico

'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu