Casal de meia-idade entra na padaria metida a restaurante de grife em que almoço vez por outra. Está lotada. Mesinhas diminutas são disputadas a tapas. Imaginários tapas elegantes, vale frisar. A contragosto, sou obrigado a devorar minha refeição no balcão. A mulher vai em direção ao toalete e o marido senta-se à uma cadeira de mim. Encontra um conhecido. Chama o sujeito pelo nome completo e se abraçam. Falam de si mesmos como se estivessem em uma entrevista de emprego. Em dado momento, o que teve o nome completo dito com alegria pelo cara ao meu lado diz: "Você precisa aparecer lá no escritório". "Me dá o endereço que fica mais fácil", responde o outro, entre risos. Cartões de visita são trocados, assim como um novo abraço e desejos de sucesso mútuo. O cara do escritório parte. Quando a mulher volta do toalete, o marido diz: "Que sorte a tua, amor. Acabo de encontrar aquele imbecil do fulano (repete o nome completo). Me deu até o cartão. Joga fora que eu não quero isso, não".
Via Facebook, o amigo Gunter Sarfert lembrou de sequência maravilhosa de um dos meus filmes brasileiros preferidos, Os Sete Gatinhos (1980), de Neville d'Almeida, baseado na obra de Nelson Rodrigues.
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