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há homens feitos só de calcanhares
cada ponta de dedo um calcanhar rachado
e a língua
um calcanhar em sede

há mulheres parindo calcanhares
e crianças mamando em calcanhares
calcanhares são a lembrança da terra
meio carne meio pedra
são a parte de trás de nossos olhos

mas há homens feitos só de estômagos
e mulheres parindo estômagos
a ponta de cada dedo um estômago ávido
e a língua
um estômago vivo

se ainda maior fosse a terra
maior ainda a guerra
nenhuma flor há de nascer entre a fome e a sede implacáveis

deus e o diabo se tocam
pela planta dos pés
- eis a achatadura dos pólos -


Conheci o poema acima por meio do Paulo Scott. É do poeta Jorge de Barros, que, informa o Scott, foi classificado em 4° lugar no 1° prêmio off flip de literatura em 2006. Curti pacas.

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Escovinha ou função, um breve estudo sociológico

'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu