Região central de Osasco. Início dos anos 2000. Mano Brown, dos Racionais MC's, e comparsas são os convidados da festa que comemora o aniversário de duas amigas minhas. Horas tantas, estamos todos na mesma roda. Um obscuro tema do funk setentista e o primeiro show do Public Enemy no Brasil, em 1991, vêm à baila. Eu conheço o tema. E, coincidentemente, estava na plateia da histórica apresentação dos norte-americanos na pista de atletismo do paulistano Ibirapuera – um dos números de abertura fora justamente o grupo de Brown, em rápida aparição pública. Dou algum tipo de informação pontual. Austera, a rapaziada surpreende-se. Um dos membros daquela confraria racional saúda o meu relato, acrescenta outros detalhes e diz:
- Ô, mano! Deixa eu te falar um bagulho. A gente nunca trocou ideia, mas te trombo há milianos nas baladas do rap. Sempre com essas roupas pretas, de botas. Um visual doido e pá. Qual que é o seu rolê? Você é punk? Roqueiro? Curte um rap?
Esboço a formulação da resposta, que incluiria àquelas e outras alternativas, mas ele mesmo, figuraça, bombeta branco e vinho na cabeça, decreta:
- Ah, tô ligado! Vida loka, né, tio? Você é um vida loka.
Diversos “só(s)” e “pode crer(es)” são ouvidos ao meu redor. Eu concordo. Agradeço, ainda que apenas intuindo o significado da terminologia. Algo positivo naquele contexto, pude perceber.
Passado algum tempo, a confirmação: “Vida Loka I” e “Vida Loka II” estariam no repertório do álbum duplo Nada como um dia após o outro dia (2002). O bagulho, definitivamente, é doido.
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