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"Barulho - 30 anos"

A exemplo daquelas e daqueles que se interessavam pelas sonoridades subterrâneas do fim dos anos 1980 e início dos 1990, eu estava na plateia do show de lançamento paulistano do livro “Barulho - Uma viagem pelo underground do rock americano”, de André Barcinski, em 1992. Com lotação máxima, o finado Aeroanta foi palco de uma jam session maluca entre Jello Biafra, um dos fundadores dos Dead Kennedys, e integrantes dos Ratos de Porão - Jão, João Gordo e Jabá - e Sepultura – Andreas Kisser e Iggor Cavalera. O ingresso, se não me engano, era a publicação, vendida em bancas de jornal. Personagem do pioneiro relato em textos e fotos, Paul Barker, do Ministry, também estava na casa, mas não no tablado. A performance foi algo de inacreditável. Há imagens no YouTube que corroboram o espanto. Desconheço em qual aventura me meti depois de testemunhar aquilo. Certeza mesmo, só uma: na noite seguinte, os Mickey Junkies e os chapas do Garage Fuzz seriam as atrações do mitológico Der Tempel. Passagem de som concluída - sob a batuta do saudoso Bóba Lima -, os agitinhos nocturnos em curso, tomava o meu, digamos, banho de lua em frente ao estabelecimento. De repente, olho pro lado e vejo Gordo, Barcinski, Biafra e Renato Martins, da Ataque Frontal, subindo a rua Augusta. Por alguns segundos, desejei que a comitiva passasse direto e fosse sabe-se lá pra onde. O que não ocorreu. Houve cumprimentos e rápidas apresentações ali na porta. Adentramos juntos ao recinto – eu, fazendo cara de paisagem, em pânico. O que se deu entre aquele momento e o início do nosso show é uma incógnita. Sei que aos primeiros acordes, era possível visualizar o cantor, compositor e ativista de Boulder, no Colorado, EUA, encostado no balcão do bar, lá no fundo. Na terceira ou quarta canção, o sujeito aproximara-se. Até chegar ao ponto de, lá pelas tantas, dançar em meio à garotada, bem diante das minhas botas e olhar atônito. Terminado o nosso espetáculo, conversamos um pouco. Ele criticava a administração George W. H. Bush, dizia da importância da manutenção da cultura alternativa e da entrega em cena. Troço surreal. Neste setembro de 2023, ter nas mãos um exemplar de “Barulho 30 anos”, recém-lançada edição comemorativa e ampliada, suscitou essa e outras memórias. Resultado de uma campanha de financiamento coletivo vitoriosa, o livro está disponível no site da minha editora predileta, a Terreno Estranho.

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