Muito antes da franquia televisiva, Frank Sinatra era conhecido como The voice. A maneira com que Sly Stone e sua turma emitem as estrofes de “FamiIy affair” coloca os ouvintes, onde quer que estejam, no âmago das relações familiares. A Marvin Gaye era atribuída uma voz de anjo presa no corpo de um homem. Billie Holiday trazia na garganta a beleza trágica do existir.
Para Jay Z, basta Snoop Dogg contar até quatro ao microfone para que expressões como “nossa, que incrível” sejam ditas tanto por ele quanto por anônimos embevecidos. No Brasil da década de 1930, o rei da voz era Francisco Alves. Mais tarde, Elis Regina idolatraria Angela Maria. Assim como Roberto Carlos, em seu debute fonográfico – “Louco por você” (1961) -, João Gilberto imitaria.
Na seara literária, um escritor só o é de fato ao encontrar a própria voz. Originalidade e autoria são os moinhos de vento aos quais quixotescos poetas, contistas, romancistas e demais artesãos da palavra escrita investem suas lanças no dia a dia. Aliás, “lutar com palavras é a luta mais vã”, dizia, no poema “O lutador”, Carlos Drummond de Andrade.
De minha parte, batuquei um livro chamado “Barítono” (editora Terreno Estranho). O nome remete à única voz que tenho. E ao intento maluco de conquistar a assinatura artística. A voz é um universo. Por isso, deleita, assombra, repele, acolhe, fascina. Auxiliando, inclusive, no orçamento deste locutor e crooner de banda de rock pauleira romântico que vos fala. Agradecido.
(É o que eu digo na seção "Open Mic", do site do Clube da Voz - Profissionais de Voz em Publicidade de São Paulo. A cada quinze dias, um novo convidado)
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