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Música e resistência

"Parece natural e talvez mais adequado à maturidade se encostar num certo spleen: já ouvi tudo, já pensei tudo, nada mais há de novo, no meu tempo era melhor etc. É quase como admitir como inevitável fazer uma guinada conservadora politicamente na idade adulta, como se o ímpeto contestador e subversivo fosse exclusividade dos mais jovens.

Bobagem.

Se há alguma coisa que o mundo moderno nos garantiu, para o bem e para o mal, é possibilidade de desviar dessas armadilhas. Podemos pensar ao contrário: depois de percorrida a metade do caminho da nossa vida, temos o privilégio de ter uma perspectiva histórica que não temos aos 20 anos. Podemos ser mais generosos, podemos rever nossos preconceitos, podemos ser menos dependentes da grande narrativa que vai dar sentido à vida e aproveitar as pequenas que nos dão alegria e beleza.

E, se a gente não se entrega à rabujice e ao desencanto, é capaz de voltar a escutar novos sentidos. Continuar gostando de e prestando atenção em música e, mais, querendo pensar sobre isso é uma forma de resistência. A que? A tudo que emburrece, a tudo que enfeia e que nos faz conformistas. O que cabe aí nesses vários tudos muda, no sentido histórico amplo e também no da sua história pessoal."


(Bia Abramo, em sua estreia como colunista no Farofafá)

Comentários

Anônimo disse…
ok ok nada de nostalgias. Mas tem uma coisa Rodrigo: Bia Abramo (no caso dela, é questão de DNA), Sonia Maia, Minho K, Ana Maria Bahiana, Marcel Pleasse...sinto muita falta daquela "pegada" + passional (e até daquela ingênua arrogância protopunk) dessa geração de jornalistas e críticos de música pop. De boa, vai.
Acho a geração atual de escribas (fora as excessões de praxe) muito chata, muito pão-com-ovo, falam de música e de artistas com um linguajar muito próximo dos analistas de mercado ou operadores da Bolsa de Valores - quem vai "estourar", em quem se deve "apostar" para o ano tal, quem-apadrinha-quem,quem tem chance de "subir", quem "desceu"...é meio triste e frustrante, principalmente praalguém que, como eu, gosta de ler sobre música e cultura pop. Anyway...Um brinde à filha do Seu Perseu!
RODRIGO CARNEIRO disse…
O (pouco) que eu sei, aprendi com esses sujeitos. Vários brindes!

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Escovinha ou função, um breve estudo sociológico

'Back in black' (1986), do Whodini; “I’m a ho!” é a quarta faixa do álbum Dia desses, no Facebook, o amigo Neco Gurgel postou uma música do Whodini, a clássica “I’m a ho!”. Nos bailes black de periferia, o refrão da faixa era conhecido e sobretudo cantado como “Desamarrou (e não amarrou)”. Paródias do tipo eram bastante comuns naqueles tempos, final dos anos 1970, começo dos 1980. Na tradução marota da rapaziada, o funk "Oops upside your head", da Gap Band, por exemplo, ficou informalmente eternizada como "Seu cu só sai de ré". Já “DJ innovator”, de Chubb Rock, era “Lagartixa na parede”- inclusive gravada, quase que simultaneamente, por NDee Naldinho, em 1988, como “Melô da lagartixa”. A música do Whodini, lançada em 1986, remete a um fenômeno que tomou as ruas do centro de São Paulo, e periferias vizinhas, antes da cultura hip hop se estabelecer de fato: o escovinha, também chamado de função. Em “Senhor tempo bom”, de 1996, os mestres Thaíde & DJ Hu