Meados da década de 1990. Na cozinha da casa, a humorista Dercy Gonçalves narrava uma existência tragicômica, algo do que se pode assistir hoje na minissérie televisiva Dercy de Verdade – leio que vai virar um longa-metragem em breve. Falamos por horas: Santa Maria Madalena, circo, tuberculose, fracasso no ramo da prostituição, sucesso no teatro de revista, chanchadas, problemas com a censura, televisão, shows solo, palavrões, seios à mostra num recente desfile de escola de samba, o próprio túmulo projetado por ela. Anotei tudo em prol do texto que batucaria mais tarde . Entre baforadas no cachimbo, Ranulfo Pereira da Costa, o indescritível Ralf, meu chefe, saudoso como a personagem, também interagia. Recém-chegado das férias de verão, digamos, doces e sessentistas, em Búzios (RJ), eu acabara de dar adeus aos longos dreadlocks que cultivara na cabeça de vento por anos, mas essa informação capilar, sei bem, não tem nada a ver com a entrevista.