Tenho a honra de assinar o prefácio de “ZoroBabel” (Editora Livrus), novo livro do jornalista, escritor e músico Pedro Rosas. A publicação chega às livrarias físicas e virtuais na próxima semana. E o meu batuque vem a seguir. Ei-lo:
PREFÁCIO RODRIGO CARNEIRO
Me agrada muito o que escreve o Pedro Rosas. Isso, há tempos. Somos amigos de longuíssima data. Personagens de uma certa efervescência musical do final do século passado, mais precisamente o início dos anos 1990. Período em que corremos parte do território nacional, dividindo palcos minúsculos e, vá lá, de médio porte; onde registramos nossas composições ruidosas em fitas demo, LPs e CDs, encarando roubadas homéricas e êxitos subterrâneos em um peculiar modo de se produzir música jovem. Ele, responsável pelas baquetas da fabulosa banda piracicabana Killing Chainsaw. E eu, no papel de crooner e letrista dos Mickey Junkies.
Entre um acorde e outro, uma selvageria aqui e acolá, o apreço pela palavra escrita sempre se fazia presente em nossas agradáveis conversas. Íamos de Milton Banana, Sonic Youth e MC5 a Machado de Assis e Roberto Piva num piscar de olhos, passando pelos autores da geração beat, os surrealistas franceses e os associados ao boom literário latino-americano. Portanto, não me surpreendi quando a faceta escriba do Rosas começou a se manifestar em textos na imprensa, na edição de livros e no abastecimento de blogs. Era o nosso velho conhecido da música, o “do it yourself”, aplicado, àquela altura, ao jornalismo, à literatura.
Neste “ZoroBabel - Entrevistas, artigos, reportagens, crônicas, resenhas, contos, poemas, aforismos”, o autor compila 15 anos de produção. Escritos publicados em jornais e revistas. E também inéditos. Neles, o testemunhar de uma exposição de Pierre Auguste Renoir, o fenômeno do air guitar, o remake do filme “King Kong” (com direito à citação dos Pixies), o elogio aos Beastie Boys e o louvor a Mikhail Bakunin somam-se às entrevistas com músicos e atores, assim como a um punhado de considerações repletas de lirismo - e alguma dor. “A única forma de encantamento que nos resta é a que se vive nas cidades, onde uma rua é cruzada por pessoas cheias de desejo, que trancam, em si, todos os sonhos do mundo. Por isso troquei São Paulo pela floresta, e encontrei meu Monte Everest. Por isso continuarei mergulhado na polifonia consonante das cachoeiras de pássaros, com os braços abertos, no mais incessante voo da vida”, diz ele em “Canção do exílio”.
Em “Brasil em cinco linhas”, Rosas define: “O Brasil é o amanhã com cara de ontem, o desespero das coisas que jamais acontecem, o macaco cuidando de uma loja de louça, o túnel à procura de uma luz pra pôr no seu fim, a virgem cruzando os portões de Sodoma, o pacto entre o abutre e o espantalho, a troca do cordeiro nu por um lobo em pele Armani, a vitória da fé ignorante sobre o medo PhD, o jóquei cego montando a mula-sem-cabeça, a mão gorda entregando os anéis.”
Outras certeiras são “Ladrão que presenteia”, de batuques como “Quero amar as ilusões que se restaram mortas. Amar o que não pode ser amado, fazer o que não pode ser feito. Ser um anjo que burla. Um ladrão que presenteia.”; e “Medo de mulher”, cujo último parágrafo atesta: “Para o homem que se considera ‘superior’, a mulher se torna feiticeira, sedutora, bruxa e é rejeitada pelo medo. O homem vê na mulher a escravidão, que põe em risco a estabilidade de sua existência. ‘Altivez patriarcal’ é o mesmo que ‘medo de mulher”’.
Enumeradas apenas algumas das linhas que me saltam à vista de “ZoroBabel”, deixo ao caro leitor o deleite que é a nova obra do meu amigo. Ao término da leitura, você mesmo poderá apontar as suas (quero crer, diversas) passagens prediletas. Fim do prefácio.
Rodrigo Carneiro é jornalista, pesquisador musical, cantor e letrista. Escreveu para o Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo e Valor Econômico. Para as revistas Bravo! e Rolling Stone Brasil. Foi editor-chefe do site Showlivre.com.
PREFÁCIO RODRIGO CARNEIRO
Me agrada muito o que escreve o Pedro Rosas. Isso, há tempos. Somos amigos de longuíssima data. Personagens de uma certa efervescência musical do final do século passado, mais precisamente o início dos anos 1990. Período em que corremos parte do território nacional, dividindo palcos minúsculos e, vá lá, de médio porte; onde registramos nossas composições ruidosas em fitas demo, LPs e CDs, encarando roubadas homéricas e êxitos subterrâneos em um peculiar modo de se produzir música jovem. Ele, responsável pelas baquetas da fabulosa banda piracicabana Killing Chainsaw. E eu, no papel de crooner e letrista dos Mickey Junkies.
Entre um acorde e outro, uma selvageria aqui e acolá, o apreço pela palavra escrita sempre se fazia presente em nossas agradáveis conversas. Íamos de Milton Banana, Sonic Youth e MC5 a Machado de Assis e Roberto Piva num piscar de olhos, passando pelos autores da geração beat, os surrealistas franceses e os associados ao boom literário latino-americano. Portanto, não me surpreendi quando a faceta escriba do Rosas começou a se manifestar em textos na imprensa, na edição de livros e no abastecimento de blogs. Era o nosso velho conhecido da música, o “do it yourself”, aplicado, àquela altura, ao jornalismo, à literatura.
Neste “ZoroBabel - Entrevistas, artigos, reportagens, crônicas, resenhas, contos, poemas, aforismos”, o autor compila 15 anos de produção. Escritos publicados em jornais e revistas. E também inéditos. Neles, o testemunhar de uma exposição de Pierre Auguste Renoir, o fenômeno do air guitar, o remake do filme “King Kong” (com direito à citação dos Pixies), o elogio aos Beastie Boys e o louvor a Mikhail Bakunin somam-se às entrevistas com músicos e atores, assim como a um punhado de considerações repletas de lirismo - e alguma dor. “A única forma de encantamento que nos resta é a que se vive nas cidades, onde uma rua é cruzada por pessoas cheias de desejo, que trancam, em si, todos os sonhos do mundo. Por isso troquei São Paulo pela floresta, e encontrei meu Monte Everest. Por isso continuarei mergulhado na polifonia consonante das cachoeiras de pássaros, com os braços abertos, no mais incessante voo da vida”, diz ele em “Canção do exílio”.
Em “Brasil em cinco linhas”, Rosas define: “O Brasil é o amanhã com cara de ontem, o desespero das coisas que jamais acontecem, o macaco cuidando de uma loja de louça, o túnel à procura de uma luz pra pôr no seu fim, a virgem cruzando os portões de Sodoma, o pacto entre o abutre e o espantalho, a troca do cordeiro nu por um lobo em pele Armani, a vitória da fé ignorante sobre o medo PhD, o jóquei cego montando a mula-sem-cabeça, a mão gorda entregando os anéis.”
Outras certeiras são “Ladrão que presenteia”, de batuques como “Quero amar as ilusões que se restaram mortas. Amar o que não pode ser amado, fazer o que não pode ser feito. Ser um anjo que burla. Um ladrão que presenteia.”; e “Medo de mulher”, cujo último parágrafo atesta: “Para o homem que se considera ‘superior’, a mulher se torna feiticeira, sedutora, bruxa e é rejeitada pelo medo. O homem vê na mulher a escravidão, que põe em risco a estabilidade de sua existência. ‘Altivez patriarcal’ é o mesmo que ‘medo de mulher”’.
Enumeradas apenas algumas das linhas que me saltam à vista de “ZoroBabel”, deixo ao caro leitor o deleite que é a nova obra do meu amigo. Ao término da leitura, você mesmo poderá apontar as suas (quero crer, diversas) passagens prediletas. Fim do prefácio.
Rodrigo Carneiro é jornalista, pesquisador musical, cantor e letrista. Escreveu para o Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo e Valor Econômico. Para as revistas Bravo! e Rolling Stone Brasil. Foi editor-chefe do site Showlivre.com.
Comentários