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"Entre 2010 e fevereiro de 2014: o inferno (ou como rir dele)"



Foram os piores anos da minha vida. Um litígio guiado pelo mais grotesco e insaciável desejo de vingança. Ali coube tudo: assinaturas falsificadas, invenções de personagens e situações esdrúxulas, sequestro de uma série de itens do vasto acervo resultante de décadas de atividade profissional (publicações, na maioria raríssimas, sobre cultura pop, livros de poesia, de história do jornalismo, portfólio, originais de reportagens e ilustrações, pôsteres, HQs, CDs e DVDs) – objetos sobretudo de trabalho que foram distribuídos, sem autorização judicial, muito menos extrajudicial, e sob um critério maluco, a terceiros, comercializados em sebos e/ou em bazares domésticos, jogados na lata do lixo ou incinerados em piras alucinatórias (conhecem o enredo de “Fahrenheit 451”? Pois bem); tentativas de agressão em pleno tribunal, audiências inenarráveis, chantagem emocional, investimento custoso num vínculo inexistente, taxas de condomínio, de IPTU e de luz propositadamente não pagas, a necessidade de uma ordem de busca e apreensão – só assim, ladeado por oficiais de Justiça e policiais, consegui resgatar o pouco que ainda sobrara dos meus pertences, havia preços neles -, entre outros desnecessários tormentos. Ah, sim, a atuação pífia do meu primeiro advogado, que revelou-se, no mínimo, um profissional de péssima qualidade, também foi um capítulo especial. A cerejinha no bolo de excrementos. No entanto, o período horrendo chegou ao fim – e foi risível, mesmo, acompanhar os capítulos finais de tal deprimente saga. Meus pais, minha atual e competentíssima advogada, a namorada, os amigos de verdade e alguns camaradinhas têm a minha gratidão eterna. O suporte que me foi oferecido por eles é imensurável, evitou que eu metesse (ainda mais) os pés pelas mãos e atendesse o clamor da demência. Amo-os com toda a força que me resta – e restou muita aqui. Já aos rancorosos, falsos desavisados, caronistas da tragédia alheia, receptadores de carga afetiva roubada e demais almas sebosas, dedico o meu mais profundo desdém, acrescido da mensagem muito difundida nas camisetas da rapaziada do thrash metal oitentista: a saber, FUCK OFF. Passado o inferno que ansiava a eternidade, a pequenez de dimensões continentais, a tarefa agora é arrumar a casa. A minha casa – tema maior do tal litígio. E, ao modo do que escreveu a poeta Ana Cristina Cesar*, fazer um safári. Ainda que eu nunca tenha sido janista, longe disso, varre, varre vassourinha.

*"Estou vivendo de hora em hora, com muito temor. Um dia me safarei - aos poucos me safarei, começarei um safári."

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